Comentário - Helvetica (documentário)

A forma como o design gráfico é capaz de representar algo ou influenciar determinadas atitudes é, com certeza, inquietante. No último fim de semana, assisti a dois documentários relacionados a esse tema: Helvetica (recomendado pelos professores de AIA) e o sexto episódio da primeira temporada da série documental Abstract, distribuída pela Netflix e que trata exatamente das diversas formas existentes de design (esse episódio, especificamente, fala sobre tipografia e design gráfico).

A Helvetica é considerada por muitos o ápice da modernidade nesse campo. Sua simplicidade (e, ao mesmo tempo, complexidade), juntamente a sua versatilidade - possui versões como bold, regular, light, etc. - fez dela a fonte mais utilizada pelos designers desde que foi criada, na década de 50. A cidade de Nova York, cenário de ambos os documentários, serve de exemplo ao apresentá-la em cada uma de suas esquinas, em cada um de seus prédios e outdoors. Como era de se esperar, essa utilização massiva promoveu o surgimento de haters da fonte. O impacto era tão marcante que esses, por sua vez, criaram o movimento ABH - Anything But Helvetica (ou Tudo Menos Helvetica, em português). Eles alegavam, principalmente, que a fonte em questão já havia sido tão exaustivamente utilizada que perdeu todo o seu valor e identidade e que qualquer um - designer ou não - seria capaz de fazer um bom trabalho ao utilizá-la, sendo o seu uso considerado por eles preguiçoso.

Nas duas produções, é evidenciada a importância de um bom design gráfico, seja ele empregado na identidade de uma empresa ou em uma campanha publicitária, por exemplo. A formalidade aparente nas fontes serifadas ou a pessoalidade das fontes grunge ou manuscritas realmente alteram a forma como o produto ao qual elas etão sendo aplicadas são vistos. Em Abstract, Paula Scher, responsável pelas identidades visuais do Public Theater, em NY (que revolucionou o design empregado na cidade para sempre) e que também faz uma participação em Helvetica, conta como o trabalho de uma mulher mudou o destino das eleições para presidente no ano de 2000 nos EUA. A má-diagramação das cédulas de voto implicou em pessoas votando pelo candidato ao qual faziam oposição! Em outro momento, Paula também cita, superficialmente, o impacto da tipografia nas guerras do Vietnã e do Iraque.

De uma forma especial, a forma como é possível usar as fontes como elemento artístico e visualmente aplicável como os desenhos e as imagens sempre me impressiona. Em uma das cenas mais marcantes do documentário, um dos entrevistados diz: "Não se deve confundir legibilidade com comunicação. Só porque algo é legível não significa que comunica (pelo menos não da forma correta)". Depois dessa, espero que meu cartaz e banner de apresentação da intervenção na Casa da Glória, em Diamantina, façam-se suficientemente legíveis e, principalmente, comunicáveis. May the designer force be with us.

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